Passa.

Passa pelo meu corpo, me faz ficar arrepiado, sinto vivo, renasci outra vez. Colecionando cicatrizes, não só as minhas, hoje não me rastejo, deixo de ser alma penada. Ser livre é isso e aquilo também. Não existem cordas no pescoço, não mais, não aqui, não é que aqui não existirão nunca mais, certas coisas são para sempre, mesmo que, mesmo por um momento, ela tenha ido embora, ela sempre volta.

Passa pela minha alma, sonetos de amor, coisas nunca antes ouvidas, me fazem leve, já não me afundam. Ouvi-las é correr ao vento, mergulhar no infinito, hoje posso me deliciar no mar das estrelas e me sentir bem, estou bem. Acho que é assim, depois do inferno o tempo bom vem como uma boa taça de vinho, eu estou adorando degustá-la, adorando ingeri-la, adorando como é bom me embebedar com esse prazer divino.

Passa a dor do meu coração, o encontro com a cura. Labaredas de fogo frio o envolve, bem acompanhado, não mais sofrido, nem machucado, reservado, mas são coisas da vida. Foge hoje a vontade de preenchê-lo, um pouco de medo, um pouco de falta de vontade, na verdade já não me apetece. 

É que hoje estou feliz.